Saneamento

Trabalhadores interrompem atividades na obra da ETA São Gonçalo

Decisão da categoria foi provocada por atraso no pagamento dos salários e ocorre um mês após a morte de colega

Paulo Rossi -

As obras da Estação de Tratamento de Água (ETA) São Gonçalo estão paralisadas desde a manhã desta sexta-feira (16). A interrupção das atividades foi anunciada pelos trabalhadores, que estão sem previsão de receber os salários de julho. A decisão foi tomada, exatamente, um mês após a morte de Everton Luís Mesquita da Silva, de 30 anos, soterrado em uma vala durante a instalação de tubulação. A Enfil S.A. Controle Ambiental, contratada para construção da ETA, confirmou que não irá se pronunciar. O Sanep deve providenciar uma segunda notificação a ser encaminhada à empresa, com matriz em São Paulo.

O cenário no canteiro de obras, nesta sexta-feira, foi de braços cruzados e fiscalização do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Imobiliário de Pelotas. O Diário Popular tentou acompanhar a mediação da entidade, mas a entrada da reportagem foi vetada. Do lado de dentro do portão, o novo engenheiro responsável pela obra, Manoel Oliveira, afirmou que não poderia se manifestar sobre nenhum dos pontos levantados: andamento dos trabalhos, pagamento dos salários e adequações exigidas após a morte do funcionário. "Eu tenho as informações, mas não estou autorizado a dar entrevista", resumiu, ao sugerir que todos os esclarecimentos fossem buscados com o Sanep.

Ao conversar com o Diário Popular, um dos trabalhadores contou que a posição de interromper as atividades foi tomada por volta das 7h30min, como desdobramento da reunião na noite de quinta, quando anunciado que o dinheiro - que já deveria ter sido pago no quinto dia útil - não cairia no bolso na manhã desta sexta, como acertado com a categoria. "Avisamos que não estávamos nos negando a trabalhar, mas não temos nem condições psicológicas de estar aqui", desabafa. Emocionado, o operário lembrou da amizade com Everton, destacou que não estava no local na hora da tragédia e, apesar de declarar que não possuía autorização para comentar o fato, enfatizou: "Ninguém me tira da cabeça que tinha algo errado. Senão, não teria acontecido isso".

Treinamento e melhorias em segurança teriam sido efetuados após o desmoronamento que provocou a morte do servente.

A posição do Sanep
O diretor-presidente, Alexandre Garcia, garante que recebeu com surpresa a notícia de paralisação da obra, já que os repasses de verba estariam em dia. "O Sanep, inclusive, antecipou recursos da sua contrapartida". Uma segunda notificação, devido à interrupção do trabalho, passaria a ser elaborada. Na quinta-feira, a autarquia havia redigido outro documento para cobrar aceleração das obras, que estariam abaixo do ritmo esperado.

Gerência Regional do Trabalho deve finalizar relatório em breve
A equipe da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho - antigo Ministério do Trabalho -, em Pelotas, deve concluir em breve o relatório a ser encaminhado à Polícia Civil, à Advocacia Geral da União (AGU), ao Ministério Público do Trabalho (MPT), à família da vítima e ao empregador. O auditor fiscal do Trabalho, Otávio Rodrigues, preferiu não revelar o teor do documento. "Não posso adiantar veredicto final exato pois está em fase de elaboração", argumentou.

Rodrigues limitou-se a afirmar que existiam, sim, irregularidades; tanto que houve o embargo parcial da obra. Instabilidade dos taludes e falta de medidas de proteção previstas na Norma Regulamentadora (NR-18) para atividades de escavação estão entre os principais pontos identificados, na inspeção inicial. Na última semana, auditores voltaram a vistoriar o local. Até o momento, as escavações permanecem embargadas e os trabalhos em altura foram liberados parcialmente.

A palavra do Sindicato dos Trabalhadores 
Um dos pontos em que o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Imobiliário também tem centrado o alvo é sobre as atribuições que Everton da Silva poderia estar realizando, já que foi contratado como servente, mas atuava dentro da vala em atividades de instalação. "Um servente é um auxiliar", lembra o técnico de Segurança do Trabalho, Carlos Machado.

Família já ingressou com ação judicial
O clima é de desolamento entre familiares de Everton Luís Mesquita da Silva, de 30 anos. Ainda extremamente abalados, preferiram não se manifestar. Uma ação de compensação por dano moral já foi ajuizada contra a Enfil S.A. Controle Ambiental e contra o Sanep.

O jovem integrava a equipe envolvida na instalação de tubulação, quando ocorreu o desmoronamento e Everton acabou soterrado, em uma vala de seis metros de profundidade e cerca de dez metros de largura. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, chegou a levá-lo ao Pronto Atendimento do Capão do Leão, mas o profissional - que atuava na Enfil desde maio de 2018 - não resistiu. Everton era solteiro e não tinha filhos.

 

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